Parvinha...

A vida separou-nos naquele Setembro de 2009
Nunca mais falamos , nem recebi um sms teu, muito menos voltamos a chorar
de tanto rir.
Nunca me perguntas-te nada, nunca entendes-te as pistas que te dei, e depois
simplesmente saíste da minha vida, assim como se não fizesses parte de mim.

Apesar de eu ainda não  conseguir perdoar o mal que me causaste,  sabes que
eras a minha menina e  que te dei tudo o que uma criança precisa.
Lembras quando eras pequenina, não tinhas mais de quatro  anitos e chamavas
por mim,em vez de chamares o teu Pai, e dizias "Anda brincar comigo".
Fui eu que te levei a primeira vez ao Teatro, ao cinema, a Fátima , a um concerto
ao Museu do brinquedo, a um canil,ao circo , a um piquenique, ao zoo  e a tantos
outros lugares.

Sempre quis que conhecesses um pouco de cada realidade , que soubesse valorizar
o que te dava e soubesses reconhecer que eu tal como o teu pai queríamos o
melhor para ti.
Era a mim que fazias queixas da tua mãe, da tua avó e eu relativizava sempre o que
me dizias porque não queria que um dia mais tarde dissesses que fui eu que te
afastei da tua família.

Era a mim que pedias para levar as amigas lá a casa, era eu que deixava sempre
o lanche ou o almoço preparado para todas.
E era eu que te ligava a perguntar se estava tudo bem, se era preciso mais alguma
coisa.
Sabes nunca mais falei de ti a ninguém, nunca mais consegui pensar em ti da mesma
forma, mas nunca me esqueci de ti , nem vou esquecer.

Foste a filha que nunca tive, e foi por ti que me deixei ficar, porque sabia que
apesar de teres muita gente , no fundo não tinhas o mais importante, atenção
carinho, diálogo, compreensão .
Lembro-me de colocares o tlm a despertar ao sábado as sete da manhã , só para
estares pronta quando eu saísse para ir as compras.
Um dia saí sem dares conta e ligaste-me a chorar querias ir comigo, conseguiste
que voltasse para trás , reclamei e fiz cara de má, mas mal saímos a rua , aumentei
o som da musica no carro e lá fomos a cantar.
É verdade ver-te feliz, fazia-me sentir feliz também...
Andavas sempre comigo, sempre!

Foram 14 anos de amizade, cumplicidade, crescimento, lágrimas e sorrisos.
Por ti o meu natal voltou a fazer um pouco mais de sentido, os teus olhos brilhantes
ao ver os presentes, os doces a ajudares a colocar a mesa.
Obrigada por teres feito parte da minha vida, por me fazeres sorrir, por me abraçares
e beijares quando chegavas e apertavas-me tanto que eu dizia "Deixa-me" e tu dizias
"Não deixo" e ali estávamos naquela "luta" uns minutos até que nos desmanchávamos
a rir que nem doidas.
("Parvinha" era como carinhosamente te chamava quando não paravas de me abraçar)

Foi muito difícil os primeiros tempos, faltava-me o meu mundo, mas fizeste-me
tanto mal que conseguiste matar quase tudo de bom que tínhamos.
A minha menina cresceu, fez 18 anos e julgava-se a dona do mundo, esqueceu
quem sempre cuidou dela, quem lutou para que ela tivesse o privilégio de hoje ter
um  Pai  presente.
Pai esse que nunca se importou muito com ela, até ao momento que eu apareci.

Mas a vida muda, hoje enquanto olhavas para mim fixamente eu desviei o olhar
não consigo falar contigo, não sou boa o suficiente para perdoar...ainda não sou
capaz!
Conheço-te como ninguém, ficas constrangida quando me vês , sabes o que fui
para ti e isso basta, para te sentires mal.
De todas as pessoas que já não fazem parte da minha vida, tu és a unica que
lamento.
Porque eras tudo para mim, tudo...

Eras a minha companhia a par com o meu pai, ambos já não estão na minha vida
mas estão no meu coração.
"Parvinha" não fazes parte da minha vida e nunca mais  nada será como antes
porque eu não quero, sabes que não sou uma pessoa rancorosa mas também
sabes que não merecia...
Mas não te quero mal, pelo contrário desejo que nunca ninguém te faça o que me
fizeste e que sejas muito feliz.

Eu sei que estás arrependida... mas quando perco a confiança em alguém não
consigo voltar a confiar e essas pessoas não entram mais na minha vida.
Felicidades "Parvinha"